terça-feira, 24 de março de 2015

Luiz Trigo 40 anos de turismo

Minha vida profissional começou em 1975, quando entrei no curso Técnico de Turismo, oferecido conjuntamente pelo SENAC - Campinas e pelo Colégio Estadual Culto à Ciência. No mesmo ano comecei a trabalhar como guia de turismo rodoviário em uma empresa chamada Ensatur, de Campinas. Quem primeiro me contratou foi o saudoso Heitor Beltrão, gerente da empresa, que me destinou aos roteiros do Rio de Janeiro, sul do Brasil, Uruguai, Argentina e Salvador. Ao terminar o antigo ginásio decidi cursar esse novo programa que prometia um curso técnico juntamente com o nível médio. Há 40 anos, pouquíssima gente sabia sobre turismo e viagens. Minha mãe era professora de história e geografia nas escolas estaduais e tinha uma mente aberta sobre educação e novas profissões. Este ano (2015), uma turma do Culto à Ciência organizou o terceiro encontro para marcar as quatro décadas de nossa entrada naquela que foi uma das mais tradicionais escolas públicas de Campinas. Comemoraremos com um almoço no dia 11 de abril, por coincidência meu aniversário. Festa garantida,



Gosto de festejar algumas datas e 40 anos de vida profissional são uma marca razoável, especialmente porque muita gente que começou comigo está por aí firme, forte e contente com suas vidas e atividades. Para celebrar neste post escolhi alguns pequenos objetos, antigos, significativos e que simbolizam materialmente as experiências vividas ao longo desses anos. Esse, acima, foi o meu primeiro passaporte. Já tinha viajado ao Chile, Argentina, Uruguai e Paraguai mas eram países que pediam apenas a carteira de identidade. Em 1978, fui para São Paulo, estudar jornalismo na ECA-USP; em 1979, comecei a trabalhar na Abreutur São Paulo como emissor internacional (estudava à noite) e em julho comecei minha carreira de guia internacional de turismo, levando um grupo imenso para a América do Norte.



Estou no sétimo passaporte. Os seis antigos aí estão, o quarto deles todo apagado, mas todos recheados de carimbos, selos, assinaturas e marcas dos lugares por onde passei.


Antigamente as passagens aéreas eram emitidas à mão, tinham carimbos, assinaturas, cálculos tarifários, siglas, taxas, informações sobre pagamentos, conexões etc. Eram os bilhetes aéreos, hoje totalmente eletrônicos, e guardei alguns deles que hoje parecem peças de museu. Várias empresas aéreas já se esvaneceram na dinâmica história do turismo global.  



Cartões de entrada da Disneyland Paris, da Disneyland de Hong Kong e Walt Disney World, de Orlando. Estive na Disneyland de Los Angeles mas não tenho o cartão.  Minha história de amor com a Disney não terminou. Com cinco anos de idade fui alfabetizado pela minha mãe, tendo como textos lúdico-didáticos os gibis Disney (Pato Donald, Tio Patinhas, Zé Carioca, Mickey...). Fui à Disney em Orlando e Los Angeles, pela primeira vez, em 1979. Em minha gestão como diretor das Faculdades Senac de Turismo e Hotelaria, em 1998, coordenei um projeto em conjunto com a Disney para dar cursos aos nossos agentes de viagem no Brasil, sobre a complexidade e pluralidade dos produtos Disney (entretenimento, hotelaria, cruzeiros, mídia). Em 2003, defendi a livre docência na ECA-USP com uma tese sobre entretenimento, onde o tema Disney foi relevante. Até hoje curto imensamente os filmes, o estilo e o imaginário Disneyano...  


Os cartões Disney e os cartões de alguns cruzeiros que fiz pelo mundo. Adoro navios. Trabalhei quatro temporadas (entre 1980 e 1985) no navio Funchal, que a Abreu fretava para cruzeiros entre Manaus e Mar del Plata. Fiquei quase um ano embarcado e o amor pelo mar se manteve. Para mim navegar implica em relaxamento profundo, leituras prazerosas, bons vinhos, comida saudável e paisagens inusitadas. 



Esse era o meu crachá da Abreu o cartão de visitas da Abreu Campinas, onde trabalhei de outubro de 1984 até o final de 1987. Em março de 1988 começava a cursar o mestrado em filosofia (PUC-Campinas) e iniciava minha vida acadêmica como professor no curso de turismo da mesma PUC-Campinas, onde fora aluno de 1981 à 1983 (graduação em turismo) e de 1985 à1988 (graduação em filosofia).


Esse é a capa do convite de formatura dos nossos cursos técnicos. Eram três anos de deliciosas aulas, discussões, viagens e projetos.


Essa foi a nossa turma. 16 pessoas se graduaram no nível médio e eu fui o orador.



Em fevereiro de 1986 fiz um mochilão de trem pela Europa (Grécia, Itália, França, Suiça e Espanha) e acima está o meu Eurailpass. Cursava o segundo ano de filosofia e conhecer a Grécia e a Itália era a realização de um antigo sonho. Já viajara pela América do Norte, o Brasil todo, parte da Ásia e da Oceania, mas a Europa ainda era um desejo. Tornou-se uma paixão.  



 Alguns dos bilhetes marítimos, hoje também extintos, substituídos pelos bilhetes eletrônicos. 


Nossa vida pode ser resumida, parcialmente claro, em poucos objetos. Eu vivenciei todos deles: passaporte, bilhete aéreo, bilhete de navio, cartões de parques ou cruzeiros, cada um significou uma experiência única, pessoal, intransferível e ... excitante, ou seja, gostosa e com vontade de ser repetida.  Poderia colocar a foto dos meus livros, das placas recebidas por várias turmas de alunos, fotos de viagens, pessoas, congressos ou festas. Mas é um universo tão vasto, com milhares de imagens, que escolhi focar em alguns pequenos e significativos artefatos coloridos e que trazem um imaginário aberto e conceitualmente infinito pois cada cartão, passaporte ou bilhete representa viagens e seus sonhos, projetos, fantasias e recordações. 



Durante 19 anos e meio (de fevereiro de 1988 à junho de 2007) fui professor da PUC-Campinas. Foi onde me tornei conhecido na área de turismo e onde tive incentivo para fazer o mestrado (PUC-Campinas, Educação, 1991), o doutorado (Unicamp,  Educação, 1996) e a livre docência (ECA-USP, Lazer e Turismo, 2003). Concomitante à PUC-Campinas, fui comissionado na Prefeitura de Campinas (1989-1992), fiquei uma década no SENAC São Paulo (1995-2004), fui membro das comissões de especialistas de administração e de turismo do Ministério da Educação (1996-2004) e professor do mestrado na Univali-SC por dois anos.  


As mudanças são visíveis e marcantes.


Descobri que não me preocupo em envelhecer. Faz parte do jogo e significa participação em algo fantástico que é a tensão, o tesão e as surpresas e mudanças que a vida nos reserva. A existência nos deixa marcas e lembranças, boas e ruins. Trabalhei muito, estudei bastante, construí minha carreira acadêmica, tive alguns projetos que não deram em nada e outros que floresceram e deram frutos. Escrevi muito. Alguns dos meus livros saíram do catálogo, outros ficaram obsoletos e alguns eu vi serem vendidos em sebos. Outros textos (livros, artigos, entrevistas) estão vivos, são citados, lembrados ou criticados. Desenvolvi uma vida virtual. Distribuí ideias, conhecimentos e visões de mundo. Adoro aprender e ensinar. Gosto de pensar em questões ambientais, políticas, sociais, culturais e mercadológicas. Gosto de me divertir e curtir a existência que me foi legada e que eu desenvolvo e aperfeiçoo constantemente.



Estou pronto para os próximos anos. Não importa o número deles, mas a intensidade com que serão vividos e compartilhados. Boa parte do que faço é o que gosto, construí minha vida para isso. Escolhi caminhos e assumo os débitos e créditos dessas escolhas. Quando rezo mais agradeço do que peço e aprendo, lentamente, o valor do desapego, da reflexão e do sentir o aqui e o agora. Não uso a frase "era feliz e não sabia", pois há tempos desfruto do prazer consciente ao viver momentos especiais. Tenho meus projetos e desejos, amores e paixões, uma lista de lugares a visitar e a voltar, muitos livros para ler e pessoas a conhecer. Dou valor às amizades e prezo as relações familiares edificantes. Gosto especialmente de ver as novas gerações florescerem, seja nas salas de aulas ou pela vida afora. Entendo melhor a figura de linguagem de Arthur Clarke ao afirmar que a mente humana é a concepção mais preciosa do universo, em bilhões de anos. Teilhard de Chardin, Kant, Goedel pensavam de maneira semelhante. Em suma, faço as minhas apostas e espero manter a mente sempre aberta para as outras experiências que a vida nos reserva. 


Há dez anos estou na EACH-USP, desde seu início em fevereiro de 2005. É aqui onde pretendo passar os próximos anos. Foi uma de minhas apostas; é uma das minhas satisfações. Ao futuro.