sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Rumo ao sul da América do Sul (II)



Navegamos  4.578 milhas náuticas (ou 8.470 Km.), do Rio de Janeiro à Valparaíso, passando por mitos geográficos como o Cabo Hornos ou o Estreito de Magalhães.  Essa foto acima foi tirada às 22h40, no Estreito. Ultrapassávamos o navio Infinity, da Celebrity Cruises em uma nebulosa noite de lua cheia.


Mas o cruzeiro chegou ao seu final. Por ser um barco marcadamente anglo-saxônico, as despedidas foram mais bem degustadas em comes e bebes do que dramatizadas com aqueles indefectíveis estereótipos demagógico-populares. Menos mal.


Aportamos em Valparaíso, Chile, em um dia de sol e tempo cálido. No entardecer anterior, o crepúsculo foi um arraso tão solene que nem fotografei. Ficou na memória.


Despedi-me da popa monumental com essa visão de parte da Armada Chilena nas docas de Valparaíso.


Na viagem de Valparaíso para Santiago o guia-motorista do traslado, um cara de meia idade, polido, me sondou um pouco antes de emitir suas opiniões. Deixei-o à vontade. Ele começou elogiando o Pinochet. Percebendo minha frieza, maneirou com o discurso sobre a Bachelet e porque a direita perdeu as eleições. Mas o que ele queria mesmo me mostrar é essa asneira acima. Dirigindo feliz, ele perguntou se eu gostava de cultura. Fiz que sim... Daí ele indagou, com olhares misteriosos, seu eu sabia a origem dos índios mapuche (ou araucanos). Fiz que não... Então ele disse, com aquela alegria festiva de alguns tolos, que vieram diretamente dos espartanos! Da antiga Grécia, certamente a mitológica porque a histórica era muito banal. E como prova engenhosa do besteirol proferido ele mostrou esse lixo xerocado. Disse que o autor usava um pseudônimo e que fora decano de antropologia em tal universidade chilena. Hum.. hum... Eu olhei, fotografei e não disse nada. Felizmente o cara me deixou no hotel correto. Ah, ele também pensava que os moais da Ilha de Páscoa foram colocados em suas posições graças aos poderes de levitação dos eleitos tribais (nobres, sacerdotes, putas-alpha), uma prática que se perdeu na história. Bem que o velho Barnum disse que "nasce um otário a cada minuto".   


Santiago está uma delícia, é uma cidade que melhorou incrivelmente ao longo das últimas décadas. Surgiram novas avenidas, bairros e centros comerciais como o Parque Arauco, um dos mais sofisticados da cidade (os shoppings Alto Las Condes e Portal La Dehesa são os top).


Esse prédio espelhado é o complexo de cinemas do Parque Arauco. Assisti O lobo de Wall Street (verei novamente) e O quinto poder (sobre o Jules Assange).


A imensa área aberta tem fontes, jardins, escadas e restaurantes deliciosos.


Ali perto há alguns parques infantis como Kidzmania. É um conceito criado em 1999, no México, e hoje há 15 desses parques em doze países. Usam o conceito de edutainment, ou educação e entretenimento.  É bem descolado. Para saber mais veja o site:

http://www.kidzania.cl/


Os chilenos ficaram tão contentes com a classificação para a Copa do Mundo que até fizeram um livro comemorativo. Se ganharem fundam uma editora. Serão muito bem vindos nos trópicos.


Essa é a avenida Apoquindo, que vira Independência e vai do centro até Las Condes, a parte nova de Santiago, com jardins, parques, torres reluzentes e muito entretenimento.


Shows, exposições, centros culturais, museus, galerias de artes plásticas e design, artesanato, malls, gastronomia e, em especial, enologia formam a teia de opções para se passar uma semana intensa.


Essa é a torre de uns 65 andares do Costanera Shopping, um complexo formado pelo centro comercial (já pronto), a torre de escritórios (a terminar em 2015) e as duas torres de hotéis (em projeto).

Os arquitetos e decoradores capricharam no projeto. Há imensos átrios arborizados, cortados pela luz e pelas sombras que se esgueiram  por entre conexões e varandas articuladas em um todo estético lúdico e iridescente. Em suma, cool.


É a estética usada para centros comerciais já há décadas, mas percebe-se inovação, o cuidado com os detalhes e a qualidade, inclusive dos serviços e produtos.

Os vidros e os verdes se complementam, desde os pátios de entrada...


... até as coberturas muito bem projetadas..


. ... de onde se vê parte da cidade.


É uma cidade latino-americana com ares californianos, vagamente mediterrânicos.


Uma cidade que aprendeu a conviver com seu passado e seus projetos,...


...que aceita a sobreposição da história e das novas realidades, com certa discrição e sem muita histeria cognitiva como acontece em alguns recantos do mundo.


Essa é a uma das vistas do Cerro Santa Lucia, uma elevação verdejante no centro da cidade.


Os degraus em pedra são disformes e resvaladiços, com corrimãos de ferro para a gente se agarrar. Ou seja, não é uma subida para idosos ou incapacitados. 


O museu Nacional de Bellas Artes estava com umas exposições contemporâneas chilenas extremamente importantes, que mostram a dinâmica e a força das artes que sobreviveram à ditadura local. 


Essa instalação simula um campo gelado com os cães espalhados, se enterrando na neve. É suprareal.


O museu data de 1880, está em um prédio clássico magnífico e na porta de uma estação de metrô (Bellas Artes).

O skyline da cidade, com os Andes ao fundo e a torre maior ao centro.


Os argentinos e chilenos estão animados com a Copa do Mundo e com as maravilhas brasileiras. Somos prêmio de supermercado, nada como a fama e a glória.


Essa é a minha visão parcial de Santiago. Um lugar que me surpreendeu favoravelmente. Foi a terceira ou quarta vez que fui à cidade e noto melhorias contínuas. O que mais gostei dessa parte da viagem (o cruzeiro foi excelente), da minha estada em Santiago? Limpeza, sinalização, segurança, qualidade em serviços, preços razoáveis. 


Encerrei a viagem com um almoço no Costamia, um dos restaurantes do Costanera Shopping. Essa criatura refestelada no prato é uma merluza austral, preparada com quinua e alguns vegetais, tudo devidamente encantado com a alquimia do chef Julio. Ele é um dos peruanos que são fundamentais nas novas gerações de cozinheiros estilosos nas melhores cidades deste continente.


Depois foi só voltar, atravessando as sempre instigantes montanhas dos Andes. 



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