domingo, 11 de agosto de 2013

Ao meu Pai, Lima Trigo







De nossa mãe temos uma certeza genética baseada em um óvulo mensal. De nosso pai temos os bilhões de espermatozoides-possibilidades jorrando quase constantemente, do qual um – apenas um – se junta ao raro óvulo mensal para nos formar enquanto pessoas.

Pai é algo mais etéreo, um anjo sublime por seu distanciamento dúbio e racional, tão propício ao que precisamos para nos jogar na vida e seus mistérios.

Nem todos possuem o nome do pai em sua certidão de nascimento. Outros convivem pouco com seus pais. Alguns vivem a relação paternal profunda e intensa. Não importa. Temos em nossas vidas um legado genético fundamental da mãe e do pai e, geralmente, um exemplo paterno que nos marca indelevelmente a existência. Mesmo desconhecido (por morte prematura ou por ter sido um caso fortuito na vida de nossas mães), o pai está presente em nossos genes, em nosso imaginário (ou saudades) e na nossa história. 

Por isso, entre tantas variáveis, é bom abraçar o pai e curtir sua presença.
   
Do meu pai eu curto suas lições de vida, sua coragem em assumir desafios e projetos, a firmeza ao superar as dificuldades e o otimismo pétreo perante a vida. Seu idealismo faz contraponto com minha racionalidade; sua intuição arguta compensa as lacunas de minhas análises cartesianas; sua capacidade de ouvir – e entender – faz dele um confidente precioso, pois há coisas que não se deve confiar a estranhos, porque não sabemos as sombras e as carências no caráter das pessoas.

Meu pai esteve em todas as minhas defesas acadêmicas (mestrado, doutorado e livre docência)  e quando nos víamos (ele mora em outra cidade) ouvia, pacientemente, minhas dúvidas,  anseios e devaneios. Ele sabe bem como fica a criatura antes dos momentos decisivos na vida acadêmica. Também  acompanhou os ups and downs de minha vida profissional. 

No final deste mês fará 78 anos, mas é ainda capaz (e teimoso) o suficiente para fazer acrobacias numa esteira rolante na academia ou ignorar o desgaste ósseo para dançar com sua mulher. Está certo que, entre outras coisas, ele fez Educação Física na praia Vermelha (Rio de Janeiro), foi paraquedista do Exército,  mariner, diretor de Educação Física do CIAGA (Marinha Mercante) e malha desde sempre. 

É duro na queda, flexível e aberto no raciocínio, teimoso na medida (do que não sei, mas minha teimosia vem de quatro costados) e vive de acordo com seu imaginário e anseios. Possui um lado místico acentuado, um bom humor constante e uma intuição tão forte quanto respeitosa. Meus pais se separaram pouco tempo após o casamento e minha mãe (já falecida), sempre falou muito bem dele (e vice-versa). Um ótimo sinal e testemunho de sua pessoa.

Para mim é mais fácil escrever tudo isso num blog do que falar pessoalmente. Mas ele lerá e hoje, no nosso almoço, terá entendido que cada um expressa suas emoções e afetos da maneira que melhor lhe convém e parece honorável.

Quanto aos meus compadres, amigos, parentes e agregados que são pais (biológicos, honoríficos ou por afeto) deixo minhas felicitações, não apenas pelo “dia dos Pais”, mas porque a benção de ter filhos merece ser celebrada por toda a eternidade.

Luiz Gonzaga Godoi Trigo, 2013