segunda-feira, 1 de abril de 2013

Dia da mentira




Que bom seria se o dia da mentira fosse apenas um, ao longo do ano. 

Que bom, se as mentiras nos fossem contadas apenas pelas outras pessoas.

Que delícia, se pudéssemos discernir imediatamente entre verdades e mentiras.

Como seria ideal se soubéssemos a verdade sobre nós mesmos e não nos escondêssemos sob os véus de mentira e da dissimulação. Escondemos coisas e memórias de nós mesmos. Mentimos para satisfazer nossos delírios, aplacar nossas frustrações e enfeitar nossa covardia perante o mundo.

Mentimos sistematicamente, especialmente para nós. Milênios de espiritualidade ou filosofia,  décadas de psicanálise, séculos de literatura, tudo isso revela como evitamos olhar o fundo do nosso ser, no espelho atormentado de nossa alma. Como distorcemos os fatos, interpretamos as coisas conforme queremos e organizamos a memória de acordo com nossos valores maculados.

Desde o templo de Apolo, em Delfos, os sacerdotes escreviam no frontispício: “Conhece-te a ti mesmo, pois quem conhece a si próprio desvenda os segredos do universo.” Mas evitamos olhar para nossos receios. Mascaramos nossos comportamentos negativos, nossas emoções vergonhosas, nossa sombra existencial, sob as raivas, invejas, mesquinharias, falsidades, cobiças, ressentimentos, lascívias, tendências homicidas ou suicidas. 

Nossa verdade está na coragem de confrontarmos nossa sombra. O psicanalista Nelson Prado Roque, escreveu em um antigo texto: “O reconhecimento de nossa Sombra pode acarretar efeitos marcantes sobre a personalidade consciente. A própria noção de que o mal que vemos na outra pessoa talvez esteja em nós mesmos, pode provocar choques de intensidades variadas. É preciso coragem e ânimo para não tentar fugir ou ser esmagado pela visão da própria Sombra; é preciso muita honestidade interior para assumir a responsabilidade pelo próprio eu inferior. A Sombra, quando adequadamente percebida, é uma fonte de renovação criativa, é a porta para nossa individualidade. Nenhum progresso ou crescimento são possíveis até que a nossa Sombra seja realmente conhecida. Só depois de termos ficado realmente chocados ao ver como somos de verdade (em vez de ficarmos no autoengano contemplando nossa imagem grandiosa e falsa na superfície espelhante do lago narcísico), é que podermos caminhar rumo à realidade individual.


E você, quanto de verdade pode suportar ao olhar, sinceramente, para sua vida, seus sonhos,  seus desejos ... e suas limitações? Tem coragem  de assumir seus sonhos? De fazer suas escolhas? De pensar profundamente sobre s mesmo para melhor escolher e assumir sua vida? 

O que temos a ganhar com nossa verdade? Apenas a liberdade, a paz interior e a satisfação de vivermos de acordo com nossas verdades.

Felizes dias da mentira. Ou dias de verdade. Depende de cada um. 

Luiz Gonzaga Godoi Trigo

Um comentário:

Luzia Neide Coriolano disse...


Isso mesmo! mentiras e verdades de cada um. Adoro ler e ouvir esse filósofo, que é tambem turismólogo.
Piores são as mentiras que contamos a nós mesmo. A verdade exige coragem!
Bela reflexão grande T R I G O !