quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Nossa miserável vida de classe média




A gente reclama – e com muita razão – dos desmandos e corrupções dos governos, igrejas, sindicatos, empresas, ONGs, instituições em geral. Mas não somos muito bons em atentar e controlar o que nos diz respeito diretamente. Às vezes passamos de atitudes autoritárias e irracionais (burocráticas, repressoras, chatas, chatíssimas) para um relaxo total, um descaso.

Parte dessa atitude irresponsável é diluída porque, ao nível macro, demoramos a perceber as conseqüências da falta de atenção e cuidado com as nossas coisas e, o principal, com as coisas comuns. Mas o preço a pagar é caro. Pagamos em duplicidade a segurança, a educação e a saúde, porque pagamos os impostos e se quisermos, como classe média, um serviço melhor, temos que pagar – novamente – a escola privada, o plano de saúde a segurança particular com suas câmeras, fios elétricos, alarmes, chiliques e frescuras típicas do povo da segurança. Pagamos, no geral, cada vez que há enchentes, desmoronamentos, incêndios, crimes, omissões, acidentes evitáveis em hospitais e clínicas. A lista é enorme.

Mas, ao nível micro, as conseqüências são mais rápidas e evidentes. Estou passando por isso. Moro em um condomínio de classe média (apartamentos de dois e três dormitórios), em São Paulo, entre a Liberdade e a avenida Paulista. Lugar bom. Prédio legal. São duas torres de 26 andares, com um total de 364 apartamentos. Imenso, e complicado de administrar. Mas, veja a piscina:


 Agora, veja o aviso nos elevadores:



  Percebe? Os moradores do condomínio urinam nas piscinas. Isso é uma rematada falta de educação para com os outros e para consigo mesmo. Mas não acaba aí. Os carrinhos para levar compras do supermercado, que estão no subsolo, tem lacres que só são abertos com cartões numerados de cada apartamento (isso deve ter no seu prédio, também). Por que? Porque senão as pessoas levam as compras nos carrinhos e não os devolvem às garagens. Se o carrinho fosse robotizado era só dar a ordem: “Volta pra garagem.”, e pronto. Mas não é. E sem contar as discussões imensas nas reuniões de condomínio, que eu não freqüento, não tenho saco pra isso. Mas pago. E tem um sindico, uma comissão de conselheiros e a administradora, a Lello Condomínios.

Pois bem ,desde ontem, estamos sem gás no prédio. A Congás (aqui é gás encanado, vem da rua) cortou o gás por falta de pagamento. As torres estão sem banho quente e sem fogão (quem tem microondas que use – eu não tenho porque não gosto e raramente cozinho em casa). Mas há um monte de velhinhos, crianças e algumas mulheres grávidas que precisam comer em casa e tomar banho quente ou, pelo menos, morno.

Ao descer à administração para averiguar o nível da asneira me deparei com as contas de gás e lá está, muito claro:


 Em todas as contas consta a falta de pagamento e durante anos (o debito é de 2010) nada foi feito para resolver, então, por fim, cortaram o gás. Essa é a irresponsabilidade que nos cabe, pois desde o síndico e os conselheiros, até a administradora, a Lello, ninguém fez NADA de eficaz e eficiente para evitar o corte. Só blá-blá-bla, nhém-nhém-nhém e desculpas, explicações rotas, caras tontas e perdidas ante a fatalidade provocada de um erro sistematicamente a anunciado.

Enquanto não nos conscientizarmos de nossas responsabilidades diretas e indiretas, não haverá melhorias significativas na qualidade de vida e na sociedade em geral. Mas nossas classes médias são retrógradas. Ou alienadas. Ou metidas e arrogantes. Urinam em suas piscinas e não querem saber de controlar as contas mensais, mesmo que tenham sido eleitas para isso. São plenas de bonomia. São caretas ou, então, permissivas e superficiais. Adoram babaquices edulcoradas e bonitinhas que falam de amor e paz, de florzinhas e sentimentos, mas com poucas ações efetivas que melhorem suas relações e convivências. Claro que me incluo nessa classe média, afinal somos uma faixa da população que sofreu, na pele, os mandos e desmandos nas últimas décadas, mas isso não justifica nossa omissão.

Por isso eu escrevo. E me acuso, juntamente com a sociedade da qual participo.

Espero que o gás volte até o Natal. Já vieram religar, mas constataram que alguns apartamentos estão com os registros abertos. Daí foram embora, pois há o riso de explosões. Há que se ter certeza de que todos os 264 apartamentos estão com os registros fechados. Está vendo a amplitude de uma irresponsabilidade? De nossa incompetência?

É o fim do mundo, como o conhecemos.

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