quinta-feira, 26 de julho de 2012

Filosofando sobre o universo (des)conhecido



Depois das descobertas científicas recentes como a evolução, a teoria da relatividade, o DNA e o genoma, as subpartículas (inclusive o bosón de Higgs) e a onda digital, sempre aparecem vozes apregando a "descoberta final" dos mistérios do universo e a pretensa superioridade da ciência sobre os outros discursos (arte, filosofia ou religião). Legal, mas os próprios cientistas sabem que esses avanços são ainda superficiais. Imagine o seguinte quadro sobre as coisas que conhecemos ou desconhecemos:

1. Há coisas que sabemos e que sabemos que sabemos;

2. Há coisas que sabemos que existem mas desconhecemos como atuam e funcionam, ou seja, coisas que sabemos que não sabemos. Não sei sânscrito, aramaico, mandarim, física subatômica, soltar pipa, consertar turbinas a jato, tocar violoncelo...;

3. Há ainda as coisas que não sabemos que não sabemos e essa é, de longe, a maior parcela que nos assola e envolve. A ficção científica muitas vezes foca no amplo e incognoscível universo que nos cerca. Stanislaw Lem, Arthur Clarke e Isaac Asimov são apenas alguns dos autores que vislumbram realidades fantásticas que podem existir mas que desconhecemos, pois estamos em uma periferia da nossa galáxia e mal roçamos nosso sistema solar. Aliás, nosso próprio cérebro é uma massa amplamente desconhecida, para não falar de conceitos como "mente". "raciocínio", "imaginação" ou "criatividade".


Fiz uma lista de algumas dúvidas que permeiam a parte 2, ou seja, coisas que sabemos que não sabemos como controlar ou resolver alguns problemas inerentes à nossa realidade atual. Essa pequena listagem já mostra o quão pouco sabemos do universo, do tempo, da energia e principalmente sobre nós mesmos. Somos ilhas de consciência parcial, com dúvidas insondáveis, em um universo estranho e amplamente desconhecido.


Dez pontos críticos do conhecimento:

  1. Como reverter a entropia do universo?
  2. Como controlar a fusão nuclear possibilitando a utilização da energia liberada para propósitos humanos?
  3. Como viabilizar propulsores espaciais e naves que viagem à velocidade da luz, ou além dela?
  4. Como mapear as relações entre “corpo”, “consciência” e “mente”, resolvendo assim, com demonstração científica, a questão do “fantasma da máquina”?
  5. Como reproduzir, em laboratório, o “big bang”?
  6. Como evitar a intensa mutação dos vírus de modo a garantir vacinas e medicamentos eficazes contra eles?
  7. Como entrar e sair fisicamente dos “buracos negros” do espaço, para analisar o que acontece com a matéria/energia por eles atraída?
  8. Como escrever um programa anti-vírus eficaz e universal para possibilitar segurança na informática?
  9. Como evitar, através de medicamentos, exercícios ou outros meios, a degeneração muscular do ser humano em grandes períodos de permanência no espaço, à gravidade zero?
  10. Como evitar a percepção de fugacidade temporal no ser humano?


 Um livro importante, publicado há alguns anos, é O que falta descobrir, (Ed. Campus, 1999), do cientista John Maddox. Abaixo a reprodução de um pequeno artigo sobre ele e seus feitos na divulgação da ciência.

John Maddox faleceu em 12 de abril de 2009 (nasceu em 1925). Ele foi editor-chefe da Nature durante décadas. Talvez você o conheça pelo notório caso da homeopatia em 1988, quando Maddox e James Randi organizaram uma investigação que derrubou declarações de um médico, após este publicar na Nature supostas evidências de que água possuia memória, o que seria a base química da homeopatia. O relatório da Nature de Maddox e Randi concluiu que as alegações eram falsas e erros no procedimento científico foram cometidos, mas até hoje a idéia de “memória da água” persiste como um meme.
A Nature publicou um edital especial em memória a Sir John Maddox.
Maddox estudou química e física na Universidade de Oxford e no King’s College de Londres, e após breve período como professor de física na Universidade de Manchester, seguiu sua brilhante carreira no jornalismo científico, até tornar-se editor da Nature em 1966.
Ele foi autor do livro O que falta descobrir, escrito em resposta ao sucesso de O Fim da ciência do jornalista John Horgan.

Fonte: http://arsphysica.wordpress.com/2009/04/15/john-maddox-1925-2009/ 


Gosto muito também de Carl Sagan, autor de O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro (Companhia das Letras: São Paulo, 1996).Uma boa resenha do livro está no link:

http://www.comciencia.br/resenhas/carl.htm

Em um mundo coalhado de crenças espúrias e estúpidas, por um lado, e por pseudos certezas absolutas sobre o progresso tecnológico e científico, do outro, a ciência bem reletida e elaborada é um parãmetro de equilíbrio entre nossas neuroses de poder e delírios edulcorados do misticismo fácil. Em suma, resta uma imensa incerteza e lacuna sobre o conhecimento, mas ficam as bases da construção de uma compreensão mais razoável e sensata sobre o universo e seus abismos insondáveis, inclusive sobre nós mesmos, "humanos, demasiadamente humanos".




2 comentários:

Unknown disse...

Adorei seu texto!! Um fôlego de sensatez nos pulmões oprimidos pela arrogância humana. Parabéns mais uma vez!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.